Brinquedos Ópticos
1- Flipbook
Criado em 1868 por John Barns Linnet os flip-books são pequenos livros “animados”.
Em Várias páginas, normalmente entre 25 a 50 folhas com o formato de
mais ou menos 5×12 cm, são criadas uma sequencia de desenho e ao pegar
esse livro ou caderno com o polegar, e saltar as folhas em uma
velocidade constante, um pequeno desenho animado é gerado, sendo quase
imperceptível ao olho fazer a “divisão” dos desenhos, assimilando-os
como uma sequência de imagens continuas.

Exemplo de flipbook
2- Folioscópio
Este brinquedo é bastante semelhante ao anterior, apenas diferindo na
forma. Em uma folha de mais ou menos 20 x 8 cm, desdobramo-la ao meio,
e, na segunda metade da folha faz-ses um simples desenho.Ao enrolar e
desenrolar sobre a segunda folha, obtemos uma ilusão de movimento.
A passagem de um desenho para outro, é anulada pela persistência da
imagem na retina. A semelhança destes dois desenhos permite-nos
identificá-los como sendo o mesmo. As suas diferenças são interpretadas
como sendo o movimento
Inventado por Willian Fitton em 1825, O aparelho era um disco de
papelão onde em um lado havia o desenho de uma gaiola e no outro o de um
passarinho. Ao fazê-lo rodar sobre um fio esticado, as duas imagens
fundiam-se dando a impressão de que o pássaro estava dentro da gaiola.
Este
brinquedo é bastante semelhante ao anterior, apenas diferindo na forma.
Em uma folha de mais ou menos 20 x 8 cm, desdobramo-la ao meio, e, na
segunda metade da folha faz-ses um simples desenho.Ao enrolar e
desenrolar sobre a segunda folha, obtemos uma ilusão de movimento.
A
passagem de um desenho para outro, é anulada pela persistência da
imagem na retina. A semelhança destes dois desenhos permite-nos
identificá-los como sendo o mesmo. As suas diferenças são interpretadas
como sendo o movimento.

Folioscópio
3- Taumatropo
Inventado por Willian Fitton em 1825, O aparelho era um disco de
papelão onde em um lado havia o desenho de uma gaiola e no outro o de um
passarinho. Ao fazê-lo rodar sobre um fio esticado, as duas imagens
fundiam-se dando a impressão de que o pássaro estava dentro da gaiola.

Taumatropo
4- Fenaquistoscópio
O Fenaquistoscópio consiste num disco preso pelo centro com um arame
ou uma agulha grossa de forma a poder-se fazê-lo girar rapidamente. Nas
extremidades do disco, e entre as ranhuras, eram desenhadas 16 figuras
em posições diferentes, mas seqüenciais. O observador só tinha de
segurar o disco em frente a um espelho com as imagens voltadas para
este. Olhando através das ranhuras e girando o disco, as figuras
adquirem movimento, era então possível obter uma seqüência de imagens
animadas.
Este aparelho foi inventado e m 1832, pelo físico belga Joseph
Antoine Plateau, que se inspirou nos trabalhos desenvolvidos por Peter
Mark Roget e Michael Faraday. Plateau foi o primeiro a medir o tempo da
persistência retiniana, e a reconhecer que o olho e o cérebro
necessitavam de um período de descanso entre as imagens, e percebeu que
existia um número ótimo de imagens por segundo para produzir uma imagem
animada, determinando que eram necessárias 16 imagens.
5- Zootropo
O Zootropo ou Daedalum descreve-o como sendo um cilindro oco tendo
rasgadas nas bordas superiores um certo número de fendas espaçadas
regularmente uma das outras. Qualquer desenho colocado no interior dos
intervalos situados entre as fendas é visível através das fendas
opostas. Se esses desenhos reproduzem as fases sucessivas de uma ação
obtém-se, fazendo girar o cilindro, o mesmo efeito de movimento que se
observa com o Fenaquistiscópio e/ou Estroboscópio, não havendo a
necessidade de colar o olho ao aparelho, já que quando gira parece
transparente e várias pessoas podem simultaneamente admirar o fenômeno.
O Daedalum foi rapidamente comercializado e passou-se a denominar de
Zootroscópio. Forneciam-se com o aparelho coleções de fitas com desenhos
que se colocavam e se substituíam na face interior do cilindro.
Inventado em 1834 por William George Horner, partindo dos estudos de
Simon Stampfer, trata-se de mais um dos brinquedos ópticos que permite
visionar um movimento contínuo ou em ação cíclica.
6- Praxinoscópio
Inventado pelo francês Émile Reynaud (1877), este brinquedo óptico surgiu do aperfeiçoamento do zootropo.
A diferença significativa é que no praxinoscópio, o visionamento das
“tiras animadas” não se faz espreitando pelas ranhuras do aparelho mas
sim pela sua projecção num espelho circular colocado no interior do
“tambor”.
Sua construção é mais apurada. No entanto, terá a vantagem de não
cansar tanto a vista e de haver uma desfocagem menor do que é
representado em animação.
A multiplicação das figuras desenhadas e a adaptação de uma lanterna
de projeção possibilitam a realização de truques que dão a ilusão de
movimento.

Praxinoscópio
7- Fuzil fotográfico
Conhecido também como fuzil cronofotográfico. Foi desenvolvido em
1878 pelo fisiologista francês Étienne-Jules Marey.Era um tambor forrado
por dentro com uma chapa fotográfica circular. Este instrumento era
capaz de produzir 12 frames consecutivos por segundo, sendo que todos os
frames ficavam registrados na mesma imagem.
Seus estudos se baseiam na experiência desenvolvida, em 1872, pelo
inglês Edward Muybridge, que decompõe o movimento do galope de um
cavalo.
Muybridge instala 24 máquinas fotográficas em intervalos regulares ao
longo de uma pista de corrida e liga a cada máquina fios que atravessam
a pista. Com a passagem do cavalo, os fios são rompidos, desencadeando o
disparo sucessivo dos obturadores, que produzem 24 poses consecutivas.

Fuzil Fotográfico
8- Cinetoscópio
O
Cinetoscópio é um instrumento de projecção interna
de filmes inventado por William Kennedy Laurie Dickson, chefe
engenheiro da Edison Laboratories de Thomas Edison, em 1889, e
patenteado por Edson em 1891. É um sistema de engrenagem para uma tira
de 15m de película de celulóide e permitia a obeservação através de um
furo (as imagens só podem ser vistas por um espectador de cada vez). Foi
o precursor de todos os aparelhos de filmagem e a largura de seu filme,
de 35mm, passou a ser considerada internacionalmente.

Cinetoscópio
9- Fantasmagorias
Termo de origem francesa (
fantasmagorie, a arte de criação
de ilusões de óptica), que diz respeito ao conjunto de imagens bizarras
que são entrevistas como se de um sonho se tratasse. Por analogia,
podemos dizer que uma cena que muda constantemente de local de acção,
por exemplo, é uma fantasmagoria ou caleidoscópio, de que pode ser
sinónimo. Um dos mais completos exemplos de fantasmagorias é o de
Quevedo em
Los sueños (1627). Lewis Carrol também nos deixou o longo poema
Phantasmagoria (1869), que abre de forma fantástica, criando a atmosfera necessária à entrada em cena de fantasmas e espíritos.
A técnica aplica-se da mesma forma ao cinema, por exemplo, em
The Adventures of Baron Munchausen (1989), de Terry Vance Gillan.
A produção de sentido nos espetáculos de fantasmagoria.
Utilizaremos neste estudo, para uma análise semiótica das práticas de
exibição de lanterna mágica, a descrição de um espetáculo de
fantasmagoria, testemunhado pelo alemão Johann Samuel Halle, em 1784:
O pretendido mago conduz o grupo de curiosos a um ambiente revestido
de um pano negro, e no qual se acha um altar pintado também de negro,
com dois candelabros e uma cabeça de morto, ou uma urna funerária. O
mago traça um círculo na areia, em volta da mesa ou do altar, e pede aos
espectadores que não atravessem o círculo. Ele começa sua conjuração,
lendo num livro e fazendo fumaça com uma substância resinosa para os
bons espíritos e com coisas fétidas para os maus. Num único golpe as
luzes se extinguem por si mesmas, com um forte ruído de detonação.
Nesse instante, o espírito invocado aparece pairando no ar, por cima
do altar e da cabeça da morte, de tal maneira que parece querer alçar
vôo pelos ares ou desaparecer debaixo da terra. O mágico passa a sua
espada diversas vezes através do espírito, que lança um grito lamentoso.
O espírito, que parece elevar-se da cabeça da morte numa ligeira nuvem,
abre a boca; os espectadores vêem então abrir-se a boca da cabeça da
morte e ouvem as palavras pronunciadas pelo espírito defunto, num tom
rouco e terrível, quando o mágico lhe faz perguntas.
Durante toda essa cerimônia, relâmpagos rasgam o ambiente… e ouve-se
um ruído terrível de tempestade. Pouco depois os candelabros acendem-se
por si sós, enquanto o espírito desaparece, e seu adeus agita de maneira
sensível os corpos de todos os membros da platéia… A sessão mágica
chega ao fim, enquanto cada qual parece perguntar ao vizinho, com um
palor lívido no rosto, que julgamento deve fazer a respeito desse
encontro com o mundo subterrâneo.
Iniciaremos nossa análise pelo plano do conteúdo, buscando os
conceitos expressos no texto. Como texto, consideraremos a prática de
exibição da fantasmagoria relatada por Halle, assim como o próprio
relato de Halle, por onde iniciaremos a análise. Posteriormente
trataremos do que é considerado específico do plano de expressão.
Numa primeira leitura do relato de Halle verificamos que se trata de
um espetáculo, apresentado a uma platéia, em um ambiente determinado.
Verificamos o caráter de magia atribuído à exibição, uma “sessão
mágica”. Sabemos que se trata do relato de um espetáculo de
fantasmagoria. Constatamos também que o próprio relato de Halle pode ser
considerado um exercício de
fantasmagoria. Ao descrever a
sessão, assim como os exibidores ocultavam a lanterna mágica das vistas
dos espectadores, Halle não revela os procedimentos técnicos e
artísticos utilizados que faziam crer os espectadores nas aparições
fantasmagóricas. Não apenas oculta os procedimentos, como se utiliza
textualmente de expressões que sublinham o caráter mágico do espetáculo,
como, por exemplo, quando afirma que “num único golpe as luzes se
extinguem por simesmas (…)”, ou ainda “o espírito invocado aparece
pairando no ar”. A leitura do relato de Halle, quase nos transpõe para o
espetáculo descrito. Entretanto, no início do relato, o próprio Halle
sublinha a “pretensa” identidade do exibidor – “o pretendido mago”,
assim como a predisposição dos espectadores, “um grupo de curiosos”. Ao
final de seu relato, contudo, Halle deixa em aberto as conclusões, que
devem ser dos leitores e espectadores: “A sessão mágica chega ao fim,
enquanto cada qual parece perguntar ao vizinho, com um palor lívido no
rosto, que julgamento deve fazer a respeito desse encontro com o mundo
subterrâneo”. Mas a descrição da sensação dos espectadores – “um palor
lívido no rosto” – e a caracterização do pretensamente ocorrido –
“encontro com o mundo subterrâneo” – indica a predisposição de
fazer-crer o leitor/espectador.
Podemos dizer que no plano do conteúdo, no nível fundamental, o que
há de mais forte é o caráter de magia – fantasmagoria2, a partir de um
ocultamento destes procedimentos versus um desvelamento, uma
visibilidade, do que realmente acontece para fazer crer os espectadores;
ilusão versus realidade. Constatamos ainda que os “espectadores” saem
de uma condição de ‘normalidade’ para o estado de ‘sensação de palor’,
provocado pela diferenciação mundo real, conhecido, versus o “mundo
subterrâneo”, desconhecido. Verificamos portanto uma relação entre
não-sensação vs sensação, conhecido vs desconhecido, desvelamento vs
ocultamento, ser vs parecer, certeza vs dúvida, realidade vs ilusão,
verdadeiro vs falso, como categorias do plano do conteúdo que se reduzem
a relação fundamental visibilidade vs fantasmagoria ou real vs
aparente.
No nível narrativo percebemos que se desenvolve uma história: um
grupo de pessoas vivencia uma experiência que parece ser sobrenatural,
presenciando, a partir da ação de um “pretenso mago”, o aparecimento e
desaparecimento de um possível espírito, fato que provoca dúvida e
sensação de medo nos espectadores. O destinador, sujeito responsável
pela alteração das qualidades do sujeito da ação, é o ‘mago’ que invoca o
espírito, sujeito da ação, que provoca dúvida e medo nos espectadores,
os destinatários. Isto se pensamos no texto como uma exibição do
aparelho óptico. Se consideramos apenas o “relato” de Halle, então
podemos dizer que o destinador é Halle, que forja seu próprio relato de
forma a conduzir nossa interpretação, e que os destinatários somos nós,
leitores, assumindo o mago e os espectadores outros papéis actanciais.
Podemos dividir o relato de Halle (assim como a exibição de
fantasmagoria) em quatro distintas partes: a primeira, onde os
espectadores são preparados a partir de um ritual; a segunda é a
cerimônia em si, durante a “presença” do espírito, a terceira é após a
cerimônia, e a quarta é composta de dois momentos – o da aparição e o do
desaparecimento do “espírito”.
Vejamos como se conduz a narrativa no nível discursivo. Como parte do ritual para preparar os espectadores, o “mago”
conduz o
grupo a um ambiente específico, que está encoberto com um pano negro –
nega-se a visibilidade ocultando-se o ambiente real. O altar pintado de
negro, os candelabros, a cabeça de morto, ou urna funerária, preparam os
espectadores para o clima “fantasmagórico”.
Ainda na parte ‘ritual’, mais uma vez a visibilidade é negada, há um espaço
delimitado que os espectadores não podem invadir, desvendar. Este lugar que não se
pode ter acesso é o lugar central da “aparição” (é por cima do altar que o espírito
aparece), e portanto ele é ressaltado pela delimitação. A leitura da conjuração, concentra
os espectadores na cena (possivelmente ocultando qualquer procedimento técnico
necessário a encenação) e a produção de fumaça corrobora a não visibilidade.
Num jogo de opostos, visibilidade e fantasmagoria se complementam. A
“visibilidade” do espírito, a encenação da fantasmagoria, só é possível, porque as luzes
se apagam; a fantasmagoria só se dá pela negação da visibilidade e termina quando a
visibilidade (o acender das luzes) é restabelecida. O apagar e acender das luzes é a
figurativização da relação visibilidade
versus fantasmagoria.
Ressalta-se que o ambiente para o qual o grupo é conduzido, por si só já
estabelece uma relação de cumplicidade com os espectadores. Preparado
cuidadosamente, de forma a criar um clima fúnebre e estabelecer com os espectadores
(ou leitores, no caso do “relato” de Halle) as bases do que será presenciado – uma
aparição fantasmagórica. O encortinamento da sala, assim como os objetos escolhidos
para o cenário preparado, provoca a perda do referencial de realidade e possibilita a
aquisição de um novo repertório com os novos elementos dados.
Para o jogo entre visibilidade e fantasmagoria ser eficaz, é
estabelecido um contrato de veridicção entre enunciador e enunciatário. O
“mago”, após conduzir o grupo para o ambiente da encenação, ao traçar
um “círculo na areia, em volta da mesa ou altar” e pedir “aos
espectadores que não atravessem o círculo”, estabelece uma espécie de
“contrato” que é reeditado quando é lida sua conjuração e produzida
fumaça – “com uma substância resinosa para os bons espíritos e com
coisas fétidas para os maus” – como forma de persuasão para o que será
presenciado, a aparição do espírito; ou, mais a frente no relato, quando
o “mágico passa a sua espada diversas vezes através do espírito”, de
forma a tornar crível a presença do espírito. Formas de persuasão do
nunciador para que o enunciatário encontre as marcas de veridicção do discurso. O
estado em que fica a “platéia” no final da exibição, com os “corpos agitados de maneira
sensível” e a sensação de “palor” demonstram no relato que o contrato foi aceito.
Apesar de não constar do relato de Halle, nas práticas de exibição de lanterna
mágica, em especial nos espetáculos de fantasmagoria, há ainda um
outro elemento que faz parte do contrato de veridicção entre enunciador e
enunciatário durante a preparação
da platéia: o anúncio de que as cenas que serão presenciadas não têm
nada de sobrenatural, mas fazem parte de fenômenos da óptica. Pode
parecer paradoxal que faça
parte do engajamento do espectador explicitar que o que será visto
será apenas uma ilusão. Entretanto o que estava em jogo era a produção
de uma ilusão, e para que ela se
tornasse crível, fazia parte do jogo de manipulação anunciá-la. O
anúncio antecipado dava maior respaldo a encenação, transformando-a em
coisa séria, científica e, ao
mesmo tempo, criando uma confiabilidade maior no enunciador. De tal
estratégia de engajamento, como vimos na seção anterior deste trabalho,
fazia parte também as
exposições de curiosidades científicas que precediam a sala da encenação.
Outro elemento que também corroborava o engajamento do espectador era
a utilização de fotografias para a aparição de fantasmas de entes
queridos ou de personalidades conhecidas.4 O reconhecimento dos
“fantasmas” ajudava na manipulação para tornar a aparição mais crível.
Este não foi o caso, entretanto, do relato em que nos baseamos para
análise.
Conhecidas as categorias do plano do conteúdo e algumas das
estratégias de enunciação do texto em análise, passaremos para as
categorias do plano da expressão, de forma a verificar como o enunciado
se manifesta acionado pelas várias linguagens e conferir se temos um
caso de sincretismo.
Considerando a exibição fantasmagórica relatada por Halle, vemos com maior
força de imposição no texto os formantes visuais e sonoros, que se manifestam durante
os momentos de aparição e desaparição do espírito. O apagar das luzes, precedendo a
aparição do espírito e o acender das luzes ao término da sessão,
propiciam o escurecimento e clareamento do ambiente. Da mesma forma,
durante a cerimônia,
“relâmpagos rasgam o ambiente”, iluminando e escurecendo alternadamente a encenação. As categorias do plano da expressão claro
vs escuro homologam a categoria
semântica visibilidade
vs fantasmagoria. Temos aqui um caso de semi-simbolismo. Há
ainda o “forte ruído de detonação”5 ao apagar das luzes, a voz em tom rouco e os gritos
lamentosos do espírito6 e o “ruído terrível de tempestade” ao final da sessão, quando as
luzes se acendem, em oposição a ausência de ruído antes e depois da cerimônia. Os
ruídos reforçavam o clima fantasmagórico, fazendo parecer real a aparição – ausência
de ruído
vs ruído homologam as categorias fundamentais real
vs aparente.
Como vimos na seção anterior deste estudo, as placas de lanterna mágica podiam
proporcionar imagens em movimento. No caso da exibição relatada por Halle, o
movimento da boca do espírito projetado pode ser considerado como parte do plano da expressão. Não-movimento
vs movimento, nesse caso, homologam mais uma vez a categoria real
vs aparente, visto que o movimento da boca do fantasma faz parecer ser real a aparição.
Ainda no plano da expressão, podemos considerar o próprio suporte
onde se forma a imagem do fantasma – a fumaça. A projeção da imagem na
fumaça torna a aparição mais convincente do que numa tela (suporte onde
já é prevista a visualização de uma imagem). A fumaça, produzida pelo
mago como parte do ritual preparatório (inclusive com apelo sinestésico,
pois era produzida com “uma substância resinosa para os bons espíritos e
com coisas fétidas para os maus”) tornava o ambiente mais turvo, menos
nítido. Além de ser um elemento visual do plano de expressão, que
conferia menor visibilidade do local onde se dava a aparição
fantasmagórica, portanto maior possibilidade de fantasmagoria, por outro
lado propiciava uma maior visibilidade do espírito, pois, conforme
visto na seção anterior, tornava a imagem projetada mais nítida e
conferia-lhe tridimensionalidade.
Certamente, considerando o que já conhecemos sobre as placas de vidro
da lanterna mágica, a própria imagem projetada deveria possuir
características importantes no plano da expressão, como a cor e o
traçado das pinturas, intensidade da luz, efeitos
de transparência ou opacidade, tamanho da imagem projetada, que
poderiam ser analisadas caso tivéssemos a vivência do espetáculo
descrito por Halle, e não somente a sua descrição.
Nesse breve estudo das práticas de exibição da
Lanterna Mágica,
pudemos examinar os procedimentos discursivos/figurativos e
enunciativos de sincretização de linguagens. Ao analisarmos o percurso
de produção de sentido do texto como um todo, verificamos que os planos
do conteúdo e da expressão se relacionam entre si a partir de
visibilidades e fantasmagorias, explicitadas tanto no plano do conteúdo
(ilusão
vs realidade) como no da expressão (desvelamento
vs ocultamento, claro
vs escuro, movimento
vs inércia, opacidade
vs transparência).
Ou seja, visibilidade e fantasmagoria / realidade e ilusão podem ser
consideradas categorias do plano do conteúdo que são homologadas
semi-simbólicamente pelas categorias do plano de expressão. Temos,
portanto, um caso de sincretismo de linguagens, advindo de todo um
trabalho gerativo de sentido, através da articulação destes dois planos.
Ressalta-se ainda a estratégia de ocultamento da lanterna e, assim,
dos verdadeiros procedimentos de produção da fantasmagoria. Nesse
sentido, podemos considerar que a sintaxe narrativa é o ocultamento do
funcionamento do aparelho e a estratégia de enunciação é fazer
sobressair o sincretismo. A enunciação usa o sincretismo como
estratégia, ocultando os verdadeiros procedimentos de produção de
ilusão, de fantasmagoria, e fazendo sobressair as diferentes linguagens.
O texto produzido pelas exibições é constituído por diversas
linguagens pertinentes ao dispositivo e às práticas de exibição,
combinadas pelo sujeito enunciador.
Verificamos no texto escolhido para análise a existência de vários textos superpostos
que interagem para a criação de sentido. Há, portanto, um caso de semiótica sincrética.
Ressaltamos, entretanto, que não pretendemos esgotar o tema. A
semiótica, em especial os estudos referentes ao sincretismo de
linguagens, é um importante referencial para a análise das exibições dos
aparelhos ópticos de produção de imagens. O tema certamente merece ser
aprofundado, sobretudo porque as estratégias de engajamento do
observador nas exibições proporcionadas pelos aparelhos ópticos dos
séculos XVIII e XIX podem ser as primeiras referências de texto
sincrético na história das exibições audiovisuais mediadas por aparelhos
ópticos.